Panorama da atividade da chuva de meteoros Eta Aquariids em 2018

A chuva de meteoros Eta Aquariids é uma chuva que ocorre todo ano, entre os dias 19 de abril até 28 de maio, decorrente de detritos originados de passagens antigas do cometa Halley. Neste ano de 2018, o pico da chuva estava previsto para ocorrer no dia 06 de maio e veremos a seguir que de fato esta previsão confirmou-se.

Das 71 estações da rede Exoss, 33 câmeras registraram os meteoros do chuveiro Eta Aquariids, coletando mais de 1000 imagens de meteoros relacionados a este chuveiro. No mapa abaixo mostramos a distribuição de nossas câmeras no território nacional.

Figura 1: Mapa de distribuição das câmeras da exoss no território brasileiro. Fonte: exoss.org

Após as devidas análises de todos os meteoros coletados por nossas câmeras, chegamos ao total de 833 meteoros, classificados como eta Aquariids pelo software Ufo Analyser V.244,   amostrado no histograma da figura 2 a seguir e que apresenta a quantidade de meteoros capturados por cada estação.

Figura 2: Histograma de números de meteoros capturados por estação. Quanto mais violeta a cor maior o número de meteoros capturados pela estação Exoss.

CLIMA DESFAVORÁVEL

No que se refere ao dia de pico da chuva, fatores climáticos prejudicaram o registro de muitos meteoros através de nossas câmeras. O mapa do tempo  que disponibilizamos a seguir pode-se perceber que partes do Sul, Norte e Nordeste estiveram sob forte cobertura de nuvens, e partes da região de São Paulo e Rio de Janeiro, também apresentaram nebulosidade  durante algumas horas do período de pico, principalmente com névoa antes do amanhecer.

Figura 3: Mapa meteorológico das horas no período do pico da chuva Eta Aquariids, no dia 06/05/.2018. Fonte: Satélite GOES, INPE.

Além do fator climático, a presença da Lua, durante a madrugada do dia 06/05, reduziu a possibilidade de mais capturas. Durante as horas de melhor observação do pico da chuva, em nosso território, entre 3 h 30 min e 6 h 30 min da manhã, (horário de Brasília),  a Lua já se encontrava no céu, em fase minguante, com cerca de 70% de seu disco iluminado, acarretando a diminuição de sensibilidade de nossas câmeras para registro de meteoros menos brilhantes.

E sobre a questão da altura do radiante, posição do Sol e da Lua, a taxa horária zenital prevista para a chuva, era de 40 a 60 meteoros/hora. Para cada região do Brasil plotamos um diagrama que mostra as alturas do Sol, Lua e do radiante, respectivamente, no dia do pico da chuva. Assim, num olhar mais detido, nota-se a presença da Lua em conjunto com o radiante, praticamente durante todo o período noturno.

No dia do pico, o radiante Eta Aquariids surgia em nosso céu após a meia-noite, e dependendo da região do nosso país, alçava-se praticamente no meio da madrugada, atingindo seu ápice entre 60 (região Sul) a 90 (região Norte) graus de elevação já quando havia amanhecido, assim, durante a noite até pouco antes do raiar do dia o radiante atingiu uma altura máxima entre 40 a 50 graus, dependendo da latitude e longitude do observador.

Figura 4: Diagramas mostrando a elevação e azimute do Sol, Lua e do radiante Eta Aquariids, no dia 06/05/2018. A curva em vermelho representa o Sol, a linha tracejada a Lua e a curva azul-esverdeado o radiante das Eta Aquariids, a barra lateral de matizes representam a sua posição em azimute, ou seja, seu caminho entre as posições  cardeais. Diagrama a) Região Sul, b) Região Sudeste; c) Região Centro-Oeste; d) Região Nordeste; e) Norte.

REGISTROS DE METEOROS POR CADA ESTAÇÃO

Nos diagramas abaixo, apresentamos a frequência de registro de meteoros por cada estação, durante todo o  período da chuva, sendo nítido o aumento da atividade de registro, nos dias próximos ao período de pico previsto, entre os dias 05 e 06 de maio.

Figura 5:  Diagrama de contagem de meteoros por estação Exoss, durante a atividade da chuva Eta Aquariids. É visível o aumento de capturas de meteoros da chuva em torno do dia 06 de maio. O período de coleta de dados foi entre  28/04/2018 a 28/05/2018. Fonte: exoss.org

As três estações que mais coletaram video capturas de meteoros Etas foram: OMC6, CGR1 e HAL2, capturando 103, 101 e 47 meteoros, respectivamente. A primeira estação, OMC6 localiza-se em Campinas/SP. A segunda colocada, CGR1 na cidade de Campo Grande/MS e por fim HAL2 em São Paulo/SP. Salientamos que importantes fatores devem ser levados em conta, como  a condição meteorológica da localidade de observação, a intensidade de poluição luminosa dominante e a configuração de lente e câmera.

Figura 6: Mapa das trajetórias de meteoros registradas entre as diversas câmeras da rede Exoss. Cada sigla representa uma estação.
Figura 7: Representação gráfica dos meteoros entrando na atmosfera sob a Região Sudeste

Após a coleta das capturas, foi possível analisar 883 meteoros classificados como Eta Aquariids,, chegando ao seguinte gráfico:

Figura 8: Gráfico mostrando a intensidade de meteoros Eta no período de atividade entre abril e maio de 2018. As cores de cada barra representam as contagens de meteoros com relação ao total. O dia do pico está marcado por uma linha vertical pontilhada em azul. As datas e horas estão usando como referencial o Tempo Universal (UTC) que está a frente da Hora de Brasília em 3 horas.

A nossa contagem mostra que a chuva periódica Eta Aquariids é muito  intensa, agraciando os habitantes do Hemisfério Sul com seus belos meteoros. Considerando o entorno do dia do pico da chuva, constatamos o aumento de atividade de meteoros, conforme apresentado no gráfico 5 e 6, de  fato, o dia do pico máximo aconteceu, conforme o previsto.

Figura 9: Diagrama mostrando o espalhamento dos radiantes da Eta Aquariids, em torno de uma posição média no céu. Cada ponto laranja representa a origem projetada na esfera celeste de um meteoro registrado pelas câmeras.
Fig. 10a
Fig. 10b
Fig. 10c

Figura 10: Projeção na esfera celeste dos radiantes Eta Aquariids registrados pela cameras exoss. Na figura 9a os radiantes estão plotados em cor azul, os pequeninos pontos alaranjados, representam estrelas até a magnitude 6. A figura 10b mostra a projeção de radiantes, em cor vermelha, capturados pelo sistema CAMS/NASA, no dia do pico da chuva. Na figura 10c plotamos na esfera celeste o radiante da chuva (em azul) e também  uma amostra de meteoros que saem dele, na cor lilás.

Nas figuras 10 plotamos em projeção polar a área do radiante das Eta Aquariids, bem como a direção de um amostra de 120 meteoros, para fins de comparação dispomos a projeção do sistema CAMS, apresentando meteoros dessa mesma chuva, verifica-se que nossos radiantes batem com aquele apresentado. A posição média do radiante em sistema equatorial de coordenadas é ascensão reta de 22h 03min e declinação de -1 grau. Neste link você pode ver animação do fluxo de meteoroides Etas Aquariids.

Com relação às trajetórias, baseadas na amostragem de 129 órbitas calculadas pelo programa Ufo Orbit V2.52, obtivemos a altura média de detecção de meteoros dessa chuva em torno de 109,5 km de altura, a velocidade geocêntrica média do meteoros ficou em torno de 63 km/seg e a média da magnitude absoluta de -1.20. A seguir, disponibilizamos gráficos mostrando as médias descritas neste parágrafo:

Fig. 11: Gráfico demonstrando a consistência de nossos dados vis a vis a distribuição de excentricidades e velocidades geocêntricas típicas da chuva eta Aquariids. Os pontos pretos são dados de órbitas calculadas a partir dos registros de câmeras do projeto Exoss e os azuis dados de órbitas da chuva Eta Aquariids de outras redes estabelecidas de monitoramento. O tracejado vermelho representa o limite de excentricidade hiperbólico.

Fechando nosso relatório, abaixo mostramos  uma tabela (figura 13)com o conjunto de parâmetros orbitais calculados de nossa amostra de 129 órbitas de meteoros da chuva eta Aquariids, onde a representa semi-eixo maior, q: distância periélica, e: excentricidade, p: período orbital, peri: argumento de periastro, node  : nodo ascendente e incl: inclinação.  

Fig. 12: Detalhamento dos resultados Exoss da eta Aquariids

 

Alguns valores destoam da media esperada, com por exemplo o semi eixo maior que estaria entre 7 a  21 UA., entretanto nossa mediana resultou em  4.182.82, atentando para o fato que os erros sistemáticos e instrumentais influenciam muito nos resultados, e aqui estamos apresentando nossas primeira análises em caráter preliminar. Os outros resultados como periélio, excentricidade, argumento do periastro, nodo e inclinação estão bem próximos dos valores esperados pelos estudos atuais,  vide figura 13, sendo importante ressaltar que as etas Aquarids podem pertencer a um complexo de radiantes denominado de Halley Complex, variando  seus parâmetros orbitais conforme o  tipo de detritos originado de certa passagem do cometa que lhe dá o nome.

Fig. 13: Tabela dos resultados obtidos nos dados Exoss

 

Orbital Parameters

(Jenniskens et al. 2016,2018;IAU – MDC)

Estimates Values
a 7.0  – 21.9 U.A
q 0.54 – 0.606 UA
e 0.92 – 0.980
peri 92.0 – 100.6 graus
node 45.0 – 49.7 graus
incl 163.0 – 166.0 graus
Geocentric Velocity 65.0 – 67.0 km/seg

 

Tabela de valores esperados nos estudos atuais

Órbitas da chuva de meteoros eta Aquariids – via banco de dados Exoss
Órbitas da chuva de meteoros eta Aquariids – via banco de dados Exoss – 2

Outros dados da chuva de meteoros eta Aquariids serão publicados em breve. 

Análise dos dados e conteúdo: Marcelo De Cicco

Edição: Diego de Bastiani

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