22 dicas de como fotografar meteoros com uma câmera fotográfica DSLR

 Leonid 2012 por Mike Hankey

Nada pode substituir a maravilha de testemunhar um belo e brilhante meteoro, ou um fireball com seus próprios enquanto coberto num saco de dormir numa manhã de inverno. Esses visuais emocionantes são o benefício de se observar meteoros, e mesmo que a imagem de um fireball valha seus dedos congelando ao ar livre, nem sempre podemos arcar com os custos de uma observação visual. Os custos incluem o tempo, noites não durmidas e algumas vezes problemas físicos. Vale mesmo ficar acordado durante toda a (gelada) noite para ver uns flashes de luz passando pelo céu? Claro que vale. Existe alguma maneira mais fácil de se observar uma chuva de meteoros que requer menos investimento em tempo e energia? Sim, existe.

Com o advento da fotografia digital, fotografar meteoros se tornou muito mais fácil e barato, e por conta disso, um novo método de observação e uma nova forma de arte vão surgindo. Fotografia digital de meteoro pode suprir ou substituir sessões de observação visual ou por vídeo. O benefício de se observar através da câmera é simples – ao fim da sua seção, você terá uma ou mais imagens que você poderá estudar ou compartilhar. A foto não será só uma peça de estudo mas também de arte.

Podemos debater os pros e contras dos diferentes métodos de observação – qual o mais efetivo, o mais acurado, divertido ou cientificamente válido. Eu acredito que o melhor método de observação está ligado aos objetivos do observador. Se você se preocupa mais com a taxa horária, então provavelmente observação via rádio seja a melhor opção. Para aqueles que almejam a experiência, nada se compara à observação visual. Cientistas de meteoros costumam preferir câmeras all sky e acreditam que o tempo de exposição ideal para meteoro é uma fração de segundo. Se por um lado é verdade que uma DSLR pode perder meteoros de baixo brilho, e que não conseguirá calibrar bem a valocidade do meteoro, uma DSLR irá capturar a posição de um meteoro relativamente a outras estrelas com uma precisão muito maior que uma câmera all sky.

As pessoas têm tirado fotos de meteoros há décadas, mas depois das câmeras digitais essa tarefa se tornou mais fácil e barata que nunca. Como um astrônomo mimado que nasceu na era dos eletrônicos, eu não consigo compreender como, há 20 anos atrás, alguém consegua lidar com astrofotografia usando filmes fotográficos. O sistema de feedback imediato de uma câmera digital e sua habilidade de tirar centenas ou até milhares de fotos numa única noite são uns dos motivos de seu grande sucesso na astrofotografia. Nunca sabemos o exato momento de um meteoro cruzar o céu, portanto, se desejamos capturar um meteoro numa foto, precisamos fotografar o céu ao longo da noite inteira.

O preço de uma DSLR decente, lentes e acessórios reduziu bastante nos últimos anos, e você consegue adquirir todo o equipamento básico necessário para fotografia de meteoro gastando em torno de $1000,00 (aproximadamente R$ 3500,00). Claro que aqueles que fazem questão do mais caro podem pagar o dobro disso somente numa lente, mas pela simplicidade do artigo isso será omitido.

Para tirar boas fotos de uma chuva de meteoros, você precisará no mínimo dos seguintes equipamentos:

  • Câmera DSLR
  • Lente grande angular rápida
  • Disparador remoto
  • Tripé
  • Cartão de memória de no mínimo 16 GB
  • Baterias extras, pilhas ou acesso a tomada
  • Aquecedor
  • Toalha de mão

Um review ou recomendação de câmera não é o objetivo aqui, mas para fotografia de chuvas de meteoros eis os seguintes elementos indispensáveis: 1) modo manual para poder alterar tempo de exposição, ISO e ebertura da lente (f-stop ou f/). 2) porta de entrada para intervalômetro (disparador remoto). Se sua câmera possui essas duas especificações e pode ser acoplada a um tripé, então ela é ideal para fotografia de meteoros.

 Mike Hankey com meteoro Perseida em Sentinel Dome, Parque Nacional Yosemite, EUA – 12 de Agosto de 2012

Em fotografia, a lente da câmera é o investimento mais importante dentre todos os equipamentos. Duas especificaçoes são muito importantes nas lentes – o número f/ e o campo de visão (FOV, do inglês Field of View). Começaremos com o FOV que é o mais simples: quanto maior o campo de visão, maior a porção do céu que sua câmera estará registrando e maior a quantidade de meteoros que serão capturarados por hora. Infelizmente, aumentar muito o campo de visão resulta na imagem perder resolução, pois maior será o tamanho do céu registrado numa mesma quantidade de pixels. Além disso cada objeto na imagem irá parecer menor. Apesar de muitas pessoas opatarem por registrar o céu inteiro, muitas vezes uma imagem de melhor qualidade é aquela com um campo de visão pequeno.

O número f/ (ou velocidade da lente) normalmente está escrito na lente como uma fração (por exemplo, f/2.8), e representa a distância focal da lente dividido pela sua abertura. Uma lente padrão costuma ter um conjunto desses números f/, que variam entre f/16 (abertura pequena) até f/2 (abertura grande). O número f/ pode ser um conceito difícil para iniciantes, mas seu significado em fotografia de meteoros é esse: com uma lente mais rápida (baixo número f/), você irá capturar meteoros mais débeis, de luminosidade baixa. Se o número f/ é muito alto, você irá perder a maioria dos meteoros. O ideal é um ter um conjunto que seja < f/2.0. Já tive sucesso com lentes até f/2.8, mas na minha experiência, uma vez acima de f/3.0, sua probabilidade de capturar um meteoro é extremamente reduzida. Não há nada mais frustrante que ver um meteoro passar pelo campo de visão da sua câmera e ver mais tarde que ele não aparece na foto.

Um intervalômetro, também chamado de cabo temporizador ou disparador remoto, é um dispositivo que permite programar e controlar o obturador sem tocar na câmera. Juntamente com o chamado modo bulb da câmera você pode programá-lo para tirar fotos em intervalos; eles são normalmente usados para vídeos time-lapse. Também há um controle de foto contínua que é muito prático e útil. O disparador remoto é importante pois ele controla sua câmera sem que você tenha que lidiar com seus botões diretamente, o que evita acidental perda do enquadramento escolhido (parte do céu onde ocorre a chuva de meteoros, por exemplo), ou imagens tremidas numa captura de longa exposição.
Baterias extras e cartões de memória também são itens importantes em fotografia de meteoros, especialmente se você decidir fotografar noite adentro. Tenha em mente que a maioria das baterias fornecerão aproximadamente 2 horas contínuas de autonomia. Existem fontes de tomada para câmera, o que será interessante caso você esteja, durante sua seção de fotografia, próximo a tomadas da sua casa ou possa usar um carro com tomada para isqueiro (lembre-se de adaptadores e extensões). Uma bateria externa como a Celestron Power Tank, por exemplo, fornecerá energia durante toda a noite para sua câmera mais um aquecedor (caso você precise, claro). Eu normalmente uso adaptadores de corrente alternada conectados a tomadas do meu próprio quintal, ou adaptadores DC e uma bateria externa quando estou em lugares remotos.

Se você vai fotografar durante toda a noite, uma preocupação será a condensação das suas lentes. Orvalho ou frio intenso de inverno podem embaçar sua lente logo durante as primeiras horas de sua seção fotográfica. A maneira mais efetiva de evitar isso é um aquecedor apropriado para uso em telescópios. Faça uma busca no Google por “dew heater” ou “dew removal” (dew heater pode ser traduzido como aquecedor contra orvalho) e encontre diversos tipos que farão bem o serviço. Muitos são simplesmente uma tira de velcro que você coloca ao redor da lente. Uma corrente eétrica passa por um fio dentro da tira e gera calor que aquece a lente e evita condensação dentro dela. A maioria dessas tiras são alimentadas por uma bateria, então os adaptadores e fontes citados até aqui também servirão aos aquecedores. Sua câmera com esses três acessórios (dew heater, adaptadores de tomada e bateria externa) já é um ótimo conjunto para astrofotografia que você pode levar em qualquer lugar.

Ajustar o foco da imagem é um dos passos mais importantes. Teste o foco ideal visualizando suas imagens numa tela bem grande de computador. Em geral, para uma imagem do céu noturno você deve desligar o autofoco e colocar o foco da lente no infinito. Normalmente o infinito é a última opção no ajuste de foco, mas em algumas lentes o foco ideal será um pouco antes ou um pouco depois do infinito. Compare resultados para escolher o melhor, e faça isso com o zoom da tela LCD da câmera no máximo. Por exemplo, coloque o foco no infinito e tire uma foto. Agora traga o foco para um pouco mais perto ou mais distante do infinito e tire uma segunda foto. Ache uma estrela na imagem e dê o máximo de zoom nela. Alterne entre a primeira e a segunda foto para ver qual delas mostrará a estrela mais nítida. Mude a direção do foco quando você achar que a imagem piorou, e faça isso para um pouco antes e um pouco depois do infinito até achar uma posição de foco perfeito para sua lente. Ao final, reveja a foto na tela do seu computador e cheque se está satisfatório.

Ao começar algo novo, é sempre bom fazer experimentos, testar métodos diferentes e adaptar suas técnicas para descobrir o que se encaixa melhor com seu equipamento e as condições do seu céu. Eu ainda faço testes e altero meus métodos, configurações e equipamentos para melhorar a eficiência e qualidade das minhas seções de fotografia de meteoros. Entretanto, existe uma parte importante do processo que se mantém a mesma para todas as noites de observação. Tente ser o mais simples possível e ter uma rotina documentada a seguir (como um passo a passo). Isso evitará que você cometa erros bobos e perca uma noite de observação.

 Meteoro com Júpiter e Vênus –14 de Março de 2012 por Mike Hankey

22 dicas de como fotografar meteoros com uma câmera fotográfica DSLR

Esse é o procedimento que sigo quando faço minha seção de fotografia de meteoros:
1 – Carregar comigo uma bateria externa (Celestron Power Tank)
2 – Checar o tempo e me preparar para o caso de chuva
3 – Checar se o cartão de memória tem espaço suficiente; limpar a memória se necessário
4 – Verificar se a hora na câmera está correta
5 – Verificar se a configuração de arquivos salvos é medium JPG / RAW
6 – Colocar o adaptador de energia na câmera e plugar na baeteria externa
7 – Colocar cartão de memória na câmera
8 – Envolver aquecedor ao redor da lente com cuidado para não esbarrar no seletor de foco
9 – Montar câmera no tripé
10 – De uma só vez, leve o tripé, a câmera e a bateria até o local escolhido para fazer as fotos
11 – Configure o ISO da câmera entre 400-800 dependendo das condições
12 – Configure número f/ para o menor valor possível (leve em consideração poluição luminosa)
13 – Configure o tempo de exposição da lente entre 10 – 25 segundos (considere poluição luminosa)
14 – Escolha o enquadramento da foto
15 – Focalize a imagem usando o procedimento apresentado acima
16 – Reveja a qualidade do foco no LCD da câmera
17 – Alterne e teste até conseguir configurações satisfatórias
18 – Teste o foco da imagem (e as outras configurações) no computador uma última vez
19 – Comece a fotografar apertando e travando o botão do disparador remoto
20 – Envolva a câmera com uma toalha para evitar que orvalho sobre a câmera
21 – Cheque nas primeiras horas de seção e mais algumas vezes ao longo da noite
22 – Coloque o despertador para tocar pela manhã e depois vá para sua cama

Se tudo está funcionando bem, e você está num local seguro e livre de crimes como roubo, você pode ir pra cama logo depois da primeira checagem pois a câmera irá funcionar bem por toda a noite. Coisas que podem dar errado e que irão arruinar sua seção incluem: entupir seu cartão de memória muito cedo, acabar a carga da bateria, embaçar a lente por conta de condensação, foto fora de foco, ou uma combinação errada de ISO, f/ e tempo de exposição. Anotar e seguir os mesmos procedimentos toda seção ajudam a garantir o sucesso na maioria das suas fotos. Também pode chuver, ou sua câmera pode ser derrubada pelo vento ou até mesmo roubada, então faça planos. Você também deve se preocupar em recolher sua câmera logo pela manhã, já que tirar fotos com a luz do Sol irá estressar o CCD da sua câmera.

Pela manhã você provavelmente terá um tesouro em imagens te aguardando. Achar as fotos mais especiais num mar de mais de 500 fotos pode ser muito exaustivo se você não usar de um bom processo de revisão. Um ponto crítico durante a revisão é poder ter uma versão de baixa resolução das suas fotos, para que você possa passar por elas no seu PC sem muitos problemas com travamento ou demora em carregar a visualização. Eu recomendo salvar as fotos em dois formatos: RAW irá preservar a imagem com a melhor qualidade possível, e medium ou low JPEG irá permitir uma revisão mais ágil das suas imagens no computador.

Quando faço a revisão das fotos eu apenas abro as imagens em JPG num visualizador qualquer. Então eu pressiono a seta do teclado para avançar para a próxima imagem e mantenho pressionado. Isso cria uma espécie de filme com 1-2 quadros por segundo. Então escaneio a imagem por inteiro procurando por irregularidades ou flashes e paro quando vejo algo. Tenho que eliminar fotos de trilhas deixadas por satélites e aviões, e eventualmente chego ao fim com algumas boas fotos de meteoros. Cada vez que eu encontro uma foto contendo meteoro eu renomeio o arquivo adicionando o prefixo “meteoro” no nome. Isso manterá os arquivos valiosos agrupados e destacados do restante para minha segunda revisão. Normalmente faço essa revisão duas ou três vezes e às vezes até mais dependendo do campo de visão. Durante algumas chuvas de meteoro, como as Geminídias, usando uma grande ocular tipo olho de peixe, eu costumo revisar meu lote umas 5 vezes e ainda assim encontro meteoros nas imagens a cada nova revisão.
Uma vez confiante de ter achado todos os meteoros entre meus arquivos, eu crio uma pasta no meu cartão de memória com o nome da data e da chuva de meteoros e movo as fotos de meteoro para aquele diretório. Após isso deleto as outras imagens para liberar espaço, e em seguida esvazio a lixeira. Manter uma noite inteira de fotos com alta resolução ocupa muitos gigas de espaço, e é uma perda de tempo e de recursos copiar tudo para o HD do seu computador. Por isso eu reviso e separo as imagens no cartão de memória, e então copio somente as fotos com meteoros para meu computador ao invés de todas as imagens.

Agora que você tem algumas imagens de meteoros, o que fazer com elas? Nos próximos meses o site da AMS (American Meteor Society), AMSMeteors.org, adicionará uma seção em que você poderá enviar suas imagens no site da AMS. Além disso, existem vários meios de publicar suas fotos de meteoros, incluindo: The Meteor Observers List, Space.com, facebook, 500px, cloudy nights e outros sites de astronomia. Durante uma noite de chuva de meteoros há muito interesse dos meios de comunicação e websites locais de notícia, e diversos blogs costumam buscar fotos como as suas para publicar.

Cientificamente, você pode determinar a frequência dos meteoros através da sua câmera e fazer a contagem destes. Apesar da contagem provavelmente ser menor do que uma feita a olho nu, já que os meteoros menos luminosos não são capturados pela sua câmera, uma contagem de frequência é interessante para se analisar toda a chuva de meteoros e também para comparação ano a ano.

 Composição de imagens da Chuva de Meteoros Perseidas – 12 de Agosto de 2012

Em termos do ponto de ocorrência do meteoro no céu, uma DSLR irá registrar a localizacão do meteoro com um nível de precisão muito maior se comparada a outros métodos de observação, como all sky por exemplo. Isso é porque milhares de estrelas são capturadas numa foto de longa exposição, diferente das dezenas de estrelas registradas numa câmera de vídeo. Grande tamanho de imagem e alta resolução também ajudam na deteminação da posição. Enquanto uma câmera all sky irá recolher mais dados científicos, especialmente a velocidade do meteoro e sua curva de luz, a falta de resolução e de detalhe de estrelas numa all sky são um problema. Por esse motivo, acredito que uma solução perfeita seria ter uma DSLR, portando lente rápida e de grande ocular, acoplada numa câmera de vídeo all sky. Essa combinação permitiria uma determinação com grande acurácia dos ângulos de azimute e elevação associados a um fireball.

Nos meses que se seguirão, a AMS estará trabalhando para crescer sua base de observadores de meteoros com DSLR, e oferecerá uma área para os observadores compartilharem suas fotografias. Se esse não é seu método principal, considere aumentar o tempo de sua observação de meteoros com DSLR, e se você já é adepto continue se aventurando. Se nunca fez uma seção de observação de meteoros, essa é a hora! Observação via DSLR é um jeito fácil e divertido de se coletar dados valiosos de meteoros e fireballs sem perder sua noite de sono.

Fonte: American Meteor Society

Tradução: Leonardo Sathler

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