VÍDEO 01 recebido pela Exoss, frame número 198 em um dos ápices de magnitude luminosa do fenômeno.

Relatório do bólido em Florianópolis-SC

Animação da área dos relatos

EVENTO

Durante o entardecer do dia 24 de Março, moradores da região de Florianópolis/SC presenciaram uma grande bola de fogo. Imediatamente informações desencontradas fizeram com que o Corpo de Bombeiros local investigasse uma possível queda de aeronave. As dúvidas sobre o que ocorrera logo foram dirimidas após as primeiras imagens de um grande bólido serem divulgadas nas redes sociais.

A Exoss iniciou suas atividades de coletas de informações após os primeiros informes nas mídias. O horário apurado inicialmente fora entre 18:30h e 18:40h, hora local, e as câmeras de monitoramento de meteoros da região integrante do projeto Exoss não registraram o evento, restando os dados testemunhais e imagens divulgadas nas mídias.

COLETA DE DADOS

O meio principal de coleta de dados para esse fenômeno foi a ferramenta de relatos de meteoros, através da divulgação da Exoss e parceiros os primeiros relatos foram realizados e as informações foram se concretizando, principalmente na manhã do dia 25 de Março, quando diversos canais de notícias começaram a divulgar o evento. Isso possibilitou o recebimento de vídeos que foram utilizados nas análises em conjunto com os relatos.

Até a data da conclusão desse relatório 38 relatos foram encaminhados para a ferramenta.

Relatos recebidos REPORT FIREBALL
Relatos recebidos pela ferramenta e coletadas em mídias sociais

O raio de observação útil para esse evento foi de aproximadamente 500km.

ESTRONDO

Duas testemunhas relataram ter ouvido som, e um dos vídeos encaminhado, há suspeita de um possível estrondo, ainda não confirmado.

Testemunhas que relataram som

É esperado para um evento dessa natureza (com estrondo) que mais testemunhas relatassem ter ouvido algo, pois elas estavam em uma região concentrada na costa.

FOTOS E VÍDEOS

A ferramenta REPORT FIREBALL recebeu duas fotos que não foram consideradas neste estudo por se tratarem de imagens com reflexo na lente encaminhadas por falta de conhecimento técnico das testemunhas.

Três vídeos foram recebidos, um dele editado (com efeito similar a gif) com pouca informação útil para análise.

VÍDEO 01 recebido pela Exoss, frame número 198 em um dos ápices de magnitude luminosa do fenômeno.
VÍDEO 02 recebido pela Exoss, frame número 101 em uma indicação de fragmentação.
VÍDEO 03 recebido pela Exoss, frame número 012 com sua perspectiva em baixa elevação

Nenhum dos vídeos recebidos apresenta o início do bólido, contemplando sua trajetória mediana até o seu fim, e o VÍDEO 01  mostra os instantes iniciais, mas sem sua trajetória completa.

O fato do céu estar claro dificulta a rápida identificação de um fenômeno como esse por quem não está acostumado, logo é plausível que o seu início não tenha sido percebido pelas testemunhas.

DADOS OBTIDOS

As fontes de dados pesquisadas foram: Relatos de testemunhas, Vídeos/Fotos, Satélite, Radar, até o presente relatório.

RADAR METEOROLÓGICO

O radar do Morro da Igreja/SC tem uma cobertura em torno de 400km de raio. O bólido foi registrado em uma região limite de atuação do radar.

Radar meteorológico e sua área de cobertura em comparação com a trajetória estimada

SATÉLITE

O recém ativado satélite GOES-16 proveu um spot distinto dos demais na região no horário coincidente aos relatos.

Às 18:30h (21:30 UTC) uma “mancha” foi detectada pelo sistema (Geostationary Lightning Mapper – GLM) que equipa o GOES-16.

Group Energy Density (CIRA) e Group Flash Count Density (CIRA) – GOES-16
Animação de satélite – Group Energy Density (CIRA) – GOES 16

Ainda não podemos afirmar que a mancha detectada seja o bólido registrado. Contudo algumas informações sugerem que possa ter relação com o evento testemunhado por dezenas de pessoas.

  • 1: Discrepância da mancha com as do seu entorno. Detecções antes e depois do evento foram registradas no campo do satélite, porém, sempre agrupados entre si. A mancha “suspeita” aparece apenas por um curto período, coincidindo com o bólido relatado.
  • 2: A proximidade da mancha com a trajetória estimada é de aproximadamente 60km (média), pode parecer muito, mas para a distância da costa brasileira é uma margem de erro plausível em se tratando de relatos visuais. Seu contorno em formato linear indica uma explosão/fragmentação inicial e outra maior em seu término.

Os dados obtidos através do VÍDEO 01 indicam picos de luminosidade, compatíveis com o demarcado pelo satélite GOES-16.

Animação com os frames 152 e 198 em evidência indicando fragmentação/explosão
Trajetória estimada com base nos relatos e a mancha detectada no satélite GOES-16
Perspectiva entre a costa (Florianópolis/SC), Trajetória dos relatos e satélite GOES-16

A trajetória computada através dos relatos de testemunhas está a uma distância média de 370km de Florianópolis, a mancha de satélite está a 440km de distância da costa.

VÍDEOS/FOTOS & TESTEMUNHAS (Trajetória)

Utilizamos os três vídeos recebidos e analisamos a perspectiva de cada um deles.

Vídeos recebidos e a projeção do meteoro. Indicador amarelo reflete a mancha identificada no satélite

VÍDEO 01

A seguir a perspectiva das testemunhas situadas no local onde o primeiro vídeo foi realizado.

Utilizamos alguns frames para obtenção da trajetória observada (naquele local).

Composição de imagens VÍDEO 01 para obtenção de trajetória estimada
Trajetória estimada baseado em relatos versus dados instrumentais obtidos pelo vídeo

VÍDEO 02

A seguir a perspectiva da testemunha situada no local onde o segundo vídeo foi realizado.

Utilizamos alguns frames para obtenção da trajetória observada (naquele local).

Composição de imagens VÍDEO 02 para obtenção de trajetória estimada
Trajetória estimada baseado em relatos versus dados instrumentais obtidos pelo vídeo

VÍDEO 03

A seguir a perspectiva da testemunha situada no local aproximado onde o terceiro vídeo foi realizado.

Este vídeo está comprometido pela edição bem como falta de referência mais precisa do seu local, o balneário onde a foto foi tirada é extenso dificultando um refinamento da coordenada. Também temos pouquíssimos frames registrados o que não agrega dados exclusivos, portanto os dados não conferem nenhuma novidade frente aos demais.

Utilizamos dois frames para obtenção da trajetória observada (naquele local).

Composição de imagens VÍDEO 03 para obtenção de trajetória estimada – Dados carentes de referências

DADOS TÉCNICOS OBTIDOS

FERRAMENTA REPORT FIREBALL

  • A distância percorrida em relação ao solo foi de 108km.
  • A duração média baseada em relatos foi de 5,25 seg. A duração baseado no VÍDEO 01 foi de 7,9 seg. A duração baseado no VÍDEO 02 foi de 5,5 seg.
  • A magnitude média baseada em relatos foi de –13 mag

Para consultar os relatos das testemunhas e mapa interativo, clique aqui.

CONCLUSÃO PRELIMINAR

Se o evento for registrado no sistema CNEOS/JPL/NASA para confrontarmos com os dados obtidos através do satélite GOES-16, será possível confirmar se a detecção dos pontos no radar se deu de fato pela entrada do meteoroide. Em caso afirmativo, as duas explosões registradas em vídeo são as mesmas indicadas no satélite.

Os dados obtidos pelos relatos confrontados com os de vídeo indicam uma coerência na trajetória. O cenário ideal é testemunhas em torno do evento, neste caso como há oceano de um lado e a cidade do outro, as testemunhas ficaram concentradas em apenas um lado do evento, isso acarreta em erros/ilusões de ótica quando a profundidade da sua trajetória, elas podem se confundir se o meteoro está se afastando ou aproximando do seu ponto de vista. O mesmo princípio vale para registros em fotos e vídeos, por isso nossas estações são dispostas de forma que um meteoro seja registrado por diversos ângulos totalmente distintos um do outro na maioria dos casos.

O vídeo institucional da Exoss explica como é essa perspectiva denominada de PARALAXE e quão importante ela é no estudo de meteoros.



CONSIDERAÇÕES

A análise de dados baseados em relatos de testemunhas e obtidos através de meios distintos dos que usamos em nossas estações de monitoramento de meteoros não é tarefa fácil. Muitas vezes a mídia e a população exige uma resposta rápida sobre o que aconteceu, como, e porquê. A resposta não é obtida em questões de alguns minutos ou mesmo horas. E, sem um sistema adequado de monitoramento podemos levar dias para se obter uma conclusão provável do evento. Este relatório foi produzido por astrônomos profissionais e amadores do projeto Exoss que dedicaram horas de trabalho voluntariamente.

Coleta de dados: Amanda Martins, Luciana Fontes, Marcelo De Cicco, Diego de Bastiani, Helbio Cabral, Fernando Ortega Usero, Richard de Almeida, Robert Magno e Eduardo Santiago.

Edição: Marcelo De Cicco e Eduardo Santiago.

Referências: 
Cneos/jpl/nasa
Goes 16 Data Base
Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica
Manual de procedimentos Operacionais de Radar Meteorológico (Ministério da Defesa)
exoss.imo.net

Comentários

Comentários

Powered by Facebook Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *