Missão da NASA pode causar chuva artificial de meteoros
Um estudo aponta que a colisão sonda DART com um asteroide pode lançar detritos na atmosfera terrestre
O conceito artístico da nave espacial elaborado pela NASA, é chamado de Double Asteroid Redirection Test (DART). Caso haja êxito nesse projeto, a nave deverá colidir-se com uma rocha espacial e lança-la em outra órbita. Créditos: NASA/JHUAPL.
Se tudo ocorrer como planejado, em setembro de 2022, a espaçonave DART se colidirá com uma rocha espacial com a energia equivalente a três toneladas de TNT. O objetivo da missão é desviar o corpo celeste da órbita terrestre. O experimento demonstrará se futuramente seríamos capazes de desviar um asteroide de um impacto catastrófico com o nosso planeta.
De acordo com um artigo publicado no início deste ano no The Planetary Science Journal, o impacto sobre o asteroide pode produzir a primeira chuva de meteoros no espaço causada por atividades humanas.
A observação da chuva de meteoros permitirá que os cientistas da Terra estudem a composição dos asteroides próximos à Terra. Porém, a nuvem de detritos apresenta uma peculiaridade para uma missão espacial, cujo objetivo é ajudar a proteger nosso planeta.
Caso atinja a atmosfera terrestre, a pequena chuva de meteoros representaria um perigo mínimo para os satélites em órbita. Conforme o autor do estudo, embora a chuva represente um risco mínimo, ao se antecipar os efeitos das operações da espaçonave poder-se-ia estabelecer um modelo para futuras missões espaciais, a fim de minimizar seus impactos no planeta terra e no espaço.
Uma simulação mostrando detritos de um impacto com o sistema de asteroides Didymos cruzando o caminho da Terra. Animação de Paul Wiegert.
A NASA planeja lançar a espaçonave DART de 499 quilos em 2021. O alvo da sonda é Didymos: um par de asteroides que viajam juntos em torno do sol e se encontram relativamente próximos à Terra.
A DART está mirando no menor dos dois asteroides que orbita o asteroide maior. O asteroide menor foi carinhosamente nomeado de “Didymoon” (cerca de 535 pés de diâmetro). Espera-se que a força do impacto mude a órbita de 11,92 horas do Didymoon em cerca de 4 minutos. O impacto será suficientemente notável para ser detectado por telescópios terrestres. O sucesso da missão confirmaria que a melhor defesa da humanidade contra um asteroide nocivo é lançá-lo em outra órbita, longe da Terra.
O Didymos faz passagens regulares em nosso planeta, (a cada 20 anos, aproximadamente) a uma distância mínima de aproximadamente 6 milhões de quilômetros, ou seja, 16 vezes a distância entre a Terra e a Lua.
O impacto da sonda DART em um dos asteroides está programado para 30 de setembro. Posteriormente, ocorrerá a próxima passagem do Didymos em 4 de outubro de 2022, a uma distância de cerca de 9.656000 quilômetros. Tal passagem irá facilitar as observações daqui da Terra.
Espera-se que o impacto produza entre 9979 e 99790 quilos de detritos, estes medindo centímetros.
” Uma quantidade razoável de detritos será expelida “, observa Paul Wiegert, autor do artigo e professor de astronomia na Universidade de Western Ontario.
A maioria dos destroços deverá ser expelida a menos de 3218 quilômetros por hora e seguirá a órbita do asteroide, sem chance de atingir a Terra em milhares de anos. Dependendo da estrutura do asteroide e do ângulo de impacto, alguns dos detritos (caso atinjam a velocidade de mais de 21 mil quilômetros por hora) poderão desviar-se ligeiramente rumo à Terra em um curto período de 15 a 30 dias.
A quantidade de detritos que alcançariam a Terra não seria tão relevante. O Dr. Wiegert estima que talvez, alguns gramas, o que corresponderia “a menos de dez meteoros” visíveis em nosso céu noturno, durante alguns dias.
Tal fato já seria suficiente para aprendermos mais a respeito da composição do asteroide, à medida que os meteoros se desintegram.
“Quando os asteroides se queimam, emitem luz”, disse Audrey Bouvier, cientista planetária da Universidade de Bayreuth, na Alemanha.
E, ao analisar o espectro dessa luz, Bouvier diz que é possível “estabelecer quais elementos estavam presentes”.
Quatorze imagens sequenciais do asteroide Didymos próximo à Terra e seu satélite. As imagens formam produzidas em novembro de 2003, pelo Observatório Arecibo, em Porto Rico, Créditos: NASA.
Há uma expectativa insignificante de que os detritos danifiquem os satélites na órbita terrestre. Tom Statler, cientista do programa DART da NASA, diz que a própria análise da equipe mostra que “não há risco significativo de eventuais danos causados por destroços”.
Por mais remotos que os riscos possam parecer, o Dr. Wiegert e outros astrônomos sugerem que a missão DART estabelecerá um precedente importante. Aaron Boley, um astrônomo planetário da Universidade da Colúmbia Britânica, pontua que essa seria a primeira vez que a atividade humana em um asteroide produzirá detritos capazes de atingir a Terra. Segundo Boley, “o espaço é imenso, mas o que fazemos lá pode nos afetar”.
Futuras atividades humanas no espaço, como a mineração de asteroides perto da Terra e outros testes de defesa planetária, podem atirar mais destritos na órbita terrestre. Isso significa que a missão DART pode ser uma oportunidade para observar como as atividades humanas no espaço profundo afetam a vida na Terra e em torno dela.
” É uma oportunidade para uma clara demonstração de gestão astroambiental”, de acordo com Boley.
O Dr. Boley sugere que alterações na missão DART podem evitar que os detritos se aproximem da Terra durante o período estimado para esse acontecimento (de 15 a 30 dias) de maneira que se estabeleça um precedente para futuras atividades de asteroides.
De acordo com os cálculos do Dr. Wiegert, se o impacto ocorrer fora do período de uma semana antes ou depois da aproximação mais próxima do asteroide com a Terra (4 de outubro), nenhum detrito irá cruzar o caminho do planeta.
“Sendo o lançamento anterior ou posterior a duas semanas e não havendo algum efeito operacional adicional na missão, haverá precedente para se realizar outras missões”, disse Boley.
Statler, no entanto, diz que o momento do impacto é “ditado pela dinâmica orbital e pela comunicação com a Terra” e a data planejada do impacto também permite que se tenha uma visualização otimizada por meio de observatórios terrestres, não sendo não possível reagendar tal evento.
Embora a missão DART não apresente riscos potenciais, Wiegert atesta que futuras missões envolvendo asteroides terão que levar em consideração a questão dos detritos, assim como é preciso melhorar a organização das missões mais próximas da Terra, uma vez que expelem lixo espacial na órbita terrestre.
“É a primeira chuva de meteoroides (dentre muitas possíveis de serem criadas no sistema solar), mas que podem, também, tornarem-se perigosas”, diz Wiegert.
Tradução: Guilherme Augusto @g2gschool
Fonte: NYTimes
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