Como identificar uma falsa bola de fogo no céu?
CONSIDERAÇÕES PARA NOVATOS E EXPERIENTES EM ASTRONOMIA, BEM COMO A IMPRENSA
A cada ano a ferramenta de relatos de bólidos (AMS, IMO, EXOSS) tem recebido dezenas, centenas e milhares de relatos e estamos felizes em fornecer meios para que mais pessoas possam colaborar com os estudos de meteoros.
Recentemente a ferramenta passou por algumas alterações possibilitando que as testemunhas enviem suas fotos e vídeos. Isso cria um vínculo entre a testemunha e a pesquisa acerca do evento em questão, o resultado é extremamente positivo mostrando que a possibilidade do envio de mídias é de grande ajuda para nós entendermos o que a testemunha está relatando.
Através dessa nova função foi possível coletar informações sobre um evento em particular que nos chamou muito a atenção e percebemos a necessidade de tratar com o público sobre esse tipo de fenômeno muito comum no céu. O caso de falso meteoro mais comum a ser tratado pela American Meteor Society em seu banco de dados diariamente.
“Vi uma grande bola de fogo que levou vários segundos/minutos para desaparecer”
“Era grande e se movia relativamente rápido, tive tempo de pegar uma câmera e tirar uma foto”
“Tinha cor vermelha, amarelo e laranja”
“Liguei para um amigo meu que me disse ver a mesma coisa”
Esses são exemplos de alguns relatos recebidos por todo mundo, sua característica principal é que as testemunhas ao descrever a emoção de presenciar tal fenômeno sempre possuem tempo hábil para realizar uma tarefa como, tirar uma foto, ligar para alguém.
No dia 13 de Novembro de 2017 ocorreu um evento no Brasil que foi confundido com meteoro, tratava-se apenas de um contrail causado por aeronave, porém o número de fotos e vídeo enviados pela ferramenta foi surpreendente.
Mas afinal, o que um evento de Contrail erroneamente confundido com meteoro faz por merecer tanta atenção assim? Como identificar uma falsa de bola de fogo no céu?
Se desenvolvemos e aperfeiçoamos uma ferramenta com um poder de alcance nunca antes visto, visando justamente alcançar o máximo de pessoas em todo mundo é essencial explicar a tais pessoas como entender e diferenciar um fenômeno corriqueiro de contrail de um evento real de meteoro.
Essa conclusão não partiu só da Exoss mas de constantes conversas com o idealizador dessa ferramenta de relatos Mike Hankey (American Meteor Society), por notarmos o grande volume de relatos com as mesmas características que por muitas vezes são difundidas em jornais de grande circulação e tornam quase impossíveis para nós corrigirmos tais informações a tempo de informar o público em massa a origem real do que acreditam ser um meteoro, cometa ou qualquer outro detrito espacial.
O que devemos considerar afinal?
LOCAL
Tais eventos ocorrem mais frequentemente em locais que são rotas da aviação comercial ou militar, no evento Brasileiro os relatos partiram de locais próximos a um aeroporto.
HORA
Nascer e pôr do sol, são momentos onde tal fenômeno se torna mais visível pois nossa atmosfera favorece a visualização da faixa do espectro de luz infra vermelha (em determinado ângulo) o que deixa as nuvens e rastros de condensação de aeronaves com tonalidades quentes (vermelho, laranja e amarelo) e isso desperta a atenção das pessoas.
Contrail no evento brasileiro sendo iluminado pelos raios solares, abaixo nuvem cumulus em baixa altitude e portanto não iluminada
DURAÇÃO
Tais fenômenos de falsos meteoros causados por contrail permite a testemunha tirar uma série de fotos e vídeos por ser algo que dure alguns segundos e talvez minutos. Um meteoro é um evento de extrema rapidez, muito rápido e a testemunha dificilmente tem tempo hábil para pegar uma câmera registrar tal fenômeno.
Mas porque existem diversas imagens e vídeos de meteoros no Youtube?
A resposta é simples.
Pessoas no local certo, hora certa fazendo a coisa certa (filmando ou tirando fotos de algo ou situação com outro contexto)
Existe inúmeros vídeos e fotos na internet e neles é possível observar que o objetivo da pessoa não era o de registrar um meteoro (salvo quando é programado uma seção de astrofotografia) e sim algum evento sem qualquer relação com a astronomia.
Em 2 de Novembro de 2015 na Tailândia um meteoro foi registrado acidentalmente por diversas câmeras de carro (DashCam) neste link podemos ver esse bólido (talvez o mais belo já registrado na minha opinião) e com atenção nos segundos 0:36 e 0:55 podemos observar dois registros feitos com câmeras já em mãos da testemunha em gravação de eventos nada relacionados a meteoros.
É claro que algumas exceções podem ocorrer. Em 10 de Agosto de 1972 um grande bólido diurno foi registrado; se um evento (“The Great Daylight Fireball”) de dinâmica similar ocorrer em pleno século 21, é de grande chance que várias pessoas poderiam registrá-lo com seus smartphones.
Em 30 de Julho de 2015 um outro evento também possuiu características que permitiu testemunhas realizarem gravações com seu celular. Clique aqui para saber mais.
O vídeo a seguir pertence ao evento de falso meteoro Brasileiro bem como imagens em detalhes feito por diversas testemunhas.
Imagem em detalhes do contrail, a aeronave possuía 4 turbinas, o simples fato de se poder dar foco e zoom em um fenômeno deste tipo já evidencia sua natureza terrena.
COMPREENDENDO CONTRAIL
Aeronaves comerciais voam a uma altitude aproximada de 10.000 metros, nessas condições a atmosfera se torna muito gélida e os gazes quentes expelidos das turbinas das aeronave se resfriam e formam cristais de gelo e consequentemente os famosos rastros densos que vão de cor branca até as mais quentes quando próximas ao amanhecer ou entardecer (efeito ótico).
Contrail registrado por câmera em solo
Contrail registrado por câmera a partir de outra aeronave
Como se formam contrail
QUESTÕES PARA RESPONDER
- É comum aeronaves nessa região?
- Você presenciou o fenômeno no início da manhã ou final de tarde?
- Sua cor varia entre vermelho, laranja ou amarelo?
- Estava próximo ao horizonte?
- Aparentava ter uma cauda?
- Você teve tempo de pegar um smartphone ou câmera para fazer um registro?
Se a maioria das respostas para essas questões foram SIM, então o que você presenciou muito provavelmente NÃO É UM METEORO, com muita segurança podemos concluir ser uma aeronave e seu rastro de condensação conhecido como CONTRAIL.
A partir do momento que fomentamos pessoas de todo o mundo a colaborarem com os estudos de meteoros, é tão importante ensinar as características dos falsos eventos, tanto quanto aos de eventos verdadeiros. Já fazemos isso com algoritmos de computadores que desempenham essa função para estudos mais avançados na área de meteoros; mas as pessoas também necessitam e precisam saber como identificar o que estão vendo no céu.
Em um evento recente no dia 28 de Janeiro no Brasil e Peru, houve vários registros de uma reentrada de lixo espacial, (Clique aqui para mais detalhes)
Este é outro evento muito comum a ser confundido com meteoro, falaremos sobre esse assunto e como analisar suas características em breve.
Este artigo é um complemento ao anterior (aqui) em face da necessidade mais aprofundada de abordar de forma didática o máximo possível de informações relativas a esse tipo de evento e toda confusão gerada nas mídias sociais e jornais sempre que se dissemina uma informação que não procede.
Créditos Imagens e vídeos: American Meteor Society, National Weather Service – NOAA, Jamile Santana, Billy Dorsch, N. Alves, Team Thailand, rek231wa, André Renato de Oliveira Costa, R. Pistori, Boldmethod, LouB747, Mick West.
“Não é possível ter câmeras em todo o mundo, mas podemos ensinar as pessoas a serem cidadãos cientistas realizando a correta identificação de meteoros e dos falsos eventos antes de relatarem.”
Edição: Eduardo P. Santiago
Comentários
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Em 2015 eu vi algo que eu concluo era reentrada de lixo espacial, sobre a cidade de São Paulo! Eu imaginei que no dia seguinte estaria em todos os jornais, mas não! Parece que não muitos viram, ou se viram, não se manifestaram. Eu estimo o largura do clarão laranja-avermelhado (realmente parecia algo em chamas) em uns 3 graus (isso mesmo, o equivalente ao diâmetro de 6 luas). Era uma noite de céu claro. Eu me surpreendi com o tamanho aparente! Poucos segundos depois que eu o avistei, o fenômeno desapareceu no horizonte atrás de uma parte alta do bairro (uma colina). A direção do movimento era sudeste-noroeste.