Região dos relatos e trajetória aproximada do bólido

Bólido no Rio Grande do Norte e região – dados consolidados

No dia 07 de Julho de 2018 aproximadamente às 22:40 minutos hora local, um evento celeste mudou significativamente a vida de centenas de pessoas nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Piauí. Isso porque tais pessoas tiveram o privilégio que poucos tem; presenciar um evento de bólido (Grande Meteoro) aproximadamente a 70 quilômetros da costa (Ponta do Mel) e aproximadamente 100 quilômetros da cidade de Mossoró/RN.

RELATOS

O que foi presenciado por essas pessoas podemos compreender pelos relatos encaminhados a Exoss.

  • “Um barulho muito grande tipo uma explosão, e vi também uma bola de fogo”
  • “Fragmentos apareceram em forma de um rasto de fogo bem amarelo, e um pequeno chiado, junto logo depois o estalo.”
  • “Foi brilhante e se desmanchando”
  • “Foi tipo uma bola de fogo e depois deu um clarão que parecida um relâmpago”
  • “Sim um brilho muito forte azul”
  • “Ele foi descendo no horizonte e explodiu num clarão branco no começo e depois ficou verde e clareou tudo”
  • “De bomba (som) mais bem forte”
  • “Percebi primeiro um clarão muito grande no céu, estava em uma festa com som alto então não pude perceber som, logo após olhei para o lado e estava uma luz avermelhada descendo no céu, desaparecendo em questão de poucos segundos. Meus familiares também avistaram o clarão no céu, como estava chovendo eles pensaram que era um relâmpago, na hora somente eu estava virada na direção na qual poderia ver o meteoro.”
  • “Era uma luz muito forte, chegava a doer os olhos.”
  • “Um rastro brilhante, como se fosse um rasgo no céu”
  • “Vi a bola de fogo descendo, e logo atrás ficou o seu rastro, na mesma cor, verde. Após cerca de 2 segundos, o rastro e a bola ficaram amarelo, e se apagaram (primeiro a bola, depois o rastro)”

Pelos relatos destas testemunhas podemos abstrair uma série de informações.

CLASSIFICAÇÃO

O evento de meteoro que ocorreu na região pode ser classificado como Bólido.

Definição de Bólido – Para consultar outras terminologias clique aqui e aqui. Para a Língua Brasileira de Sinais Consulte os vídeos produzidos pelo Professor Bruno Xavier em parceria com a Exoss neste link.

MAGNITUDE (BRILHO)

Podemos observar uma outra característica desse meteoro, sua magnitude (luminosidade).

Muitas testemunhas relataram uma magnitude acima de -12 sendo que algumas até mesmo acima de -20!

Uma das etapas da ferramenta de coleta de relatos de testemunhas que introduz noções básicas de magnitude comparando com corpos celestes já conhecidos permite compreender quão brilhante foi esse meteoro. O brilho selecionado por grande parte das testemunhas indica uma magnitude próxima a -20 de uma escala onde se aproxima ao brilho do próprio sol. É claro que isso ocorre durante um intervalo muito curto de tempo (pico de luminosidade) sendo muitas vezes de difícil percepção para quem não é acostumado a exercer o hobby da astronomia e portanto pode fornecer informações extrapoladas ao relatar o evento.

Escala de magnitude na ferramenta de coleta de relatos

A composição a seguir mostra a perspectiva de uma câmera situada na cidade de Parnamirim/RN a uma distância aproximada de 230 quilômetros do local onde o meteoro ocorreu. Quadros do vídeo antes, durante e depois do evento mostram como sua luminosidade foi intensa até mesmo nessa distância. Selecionamos o frame com maior intensidade de luz para compor as animações.

Câmera situada em Parnamirim/RN – 230km Epicentro do Evento
Perspectiva aproximada da câmera comparado ao Google Earth e trajetória tridimensional baseado nos relatos de testemunhas

Composição de frames em cidade ainda não localizada mostrando pico de luminosidade e um rastro persistente bem proeminente após a passagem do meteoro. (Se você for o autor desse vídeo entre em contato com a Exoss no WhatsApp (12) 98181-7597).

Rastro persistente permaneceu por alguns segundos conforme imagens e relatos

Um grupo de familiares e amigos estavam realizando um piquenique na região de Peixe Gordo/CE e foram surpreendidos pelo intenso brilho do evento que ocorrera a aproximadamente 200 quilômetros de distância deles.

Câmera situada em Peixe Gordo/CE – 200km Epicentro do Evento

Composição de frames em cidade ainda não localizada mostrando pico de luminosidade durante a passagem do meteoro. (Se você for o autor desse vídeo entre em contato com a Exoss no WhatsApp (12) 98181-7597). 

Horizonte iluminado em câmera não localizada

Câmera situada na cidade de Mossoró/RN onde o evento ocorreu a aproximadamente 100 quilômetros desta perspectiva. Detalhes foram comprometidos devido a alguns ajustes específicos configurados na câmera como compensação de alta luminosidade. (Função High Light Compensation)

 

Perspectiva de câmera situada em Mossoró/RN – 100km Epicentro do Evento

Portanto a magnitude deste evento foi tamanha a ponto de ser visível em um raio de 600 quilômetros do epicentro da trajetória do meteoro.

Salientamos que são estimativas baseadas em câmeras que não são configuradas e calibradas para uso em astronomia (vídeo meteoros) por esse motivo não é possível realizar astrometria para a obtenção precisa da magnitude. Restando apenas estimativas dos vídeos e relatos testemunhais.

Imagem de câmera cctv recebida pela Exoss, em análise

 

Imagem recebida pela Exoss, em análise

ESTRONDO

O que mais atraiu a atenção foram os relatos de estrondos que pode ser indicativo de que a altitude final do mesmo foi suficientemente baixa para gerar meteoritos, sobras do material após sua “queima” em nossa atmosfera. A recuperação de material é tecnicamente inviável por se tratar de região oceânica.

Tais estrondos são ocasionados quando uma alta energia libera uma onda sonora mais rápida que a velocidade do som.

Testemunhas que relataram som gerado pelo meteoro

Através dos relatos testemunhais encaminhado para a ferramenta EXOSS.IMO.NET concluímos que a dissipação sonora (estampido sônico) se propagou por um raio de 300 quilômetros a partir do epicentro do evento, muito mais testemunhas nas mídias sociais relataram som associado ao evento, mas para fins de consolidação utilizaremos apenas os dados validados encaminhados para a ferramenta.

No vídeo a seguir temos o estrondo com origem no Super Bólido Chelyabinsk em 2013 e embora seja um evento de maior proporção exemplifica a dinâmica da propagação do som, momentos após o evento.

Alguns sons são de estilhaços de vidros causados pela onda de choque.

DINÂMICA

A ilustração a seguir nos permite compreender a dinâmica envolvida nos eventos de meteoros.

Eventos com dissipação energética por meio do processo de ablação abaixo de 50km já são passíveis de se ouvir estampido sônico e quando sua desintegração ocorre abaixo dos 30km há chances de algum meteorito remanescente do material principal ser encontrado em solo, mas isso não é regra. Os estudos de meteoros são baseados em eventos, estes por vezes oferecem novas informações que incorporam dados acerca da natureza do evento.

Para o evento em questão a ferramenta de relatos computa altitudes iniciais fixas em 80km e baseado nos relatos de 77 testemunhas até o momento desta matéria os dados produzidos indicam uma altitude final deste meteoro em 45km acima do oceano, distante 70km da costa mais próxima.

Dinâmica de um bólido/meteoro

Região dos relatos e trajetória aproximada do bólido

BÓLIDO AVISTADO DE VOO COMERCIAL PARA EUROPA

Cabe destacar algo surpreendente neste evento, o piloto Heraldo Caira Gitahy que estava no comando de um voo com destino para Funchal Portugal a aproximadamente 400 quilômetros da costa, no oceano atlântico utilizou a ferramenta e fez esse relato impressionante:

RELATO: A baixa luminosidade do cockpit da aeronave que eu estava como comandante, voando sobre o Atlântico, subitamente ficou clara como dia. Por isso eu e meu colega copiloto Michel Fernandes vimos à nossa esquerda o que descrevi nas perguntas de vocês. Naquele momento nosso deslocamento era sentido Nordeste rumo magnético 051 e altitude 39000 (mil pés): voo Recife para Funchal.

RASTRO PERSISTENTE: Luz branca fortíssima no início e depois rastro alaranjado com aparente fagulhas até sumir/desvanecer no horizonte.

FRAGMENTAÇÃO: Luz branca fortíssima como se fosse uma explosão e depois rastro alaranjado bem largo com fagulhas até desaparecer. Eu estava dentro de um avião sobre o Atlântico então não ouvi nada.

CONCLUSÃO

De fato, este evento surpreendeu a todos da Exoss que atuaram nas coletas dos dados. Os Potiguares bem como testemunhas de outros estados fizeram deste evento um dos maiores em participação no Brasil (relatos e envio de material), em especial em uma região do Brasil onde a atuação da Exoss é carente por falta de estações de monitoramento de meteoros e sem a divulgação abrangente da ferramenta de relatos de meteoros.

Para um evento que não foi noticiado nas mídias, contou com pouquíssimas participações de grupos de astronomia na divulgação para coleta de dados, foi surpreendente a atenção prestadas pelas testemunhas em ceder seu tempo para auxiliar nos estudos deste evento; esse é o verdadeiro espírito de cidadão cientista e a Exoss que é a principal divulgadora desta ferramenta e quem atua na coleta desses dados para compor um banco de dados mundial está muito orgulhosa do resultado obtido.

Dados mais precisos poderiam ser obtidos com o uso de duas ou mais estações de meteoros o que não aconteceu, portanto ter cada dia mais e mais Brasileiros sendo os olhos e ouvidos na ciência de meteoros é muito importante!

Este evento contou com a participação de voluntários por parte da Exoss que dedicaram dezenas de horas de trabalho desde o dia do evento, auxiliando quem se dirigia em nossas mídias sociais e principais contatos para tirar dúvidas do ocorrido

QUESTIONAMENTO DE TESTEMUNHA

Umas das testemunhas (Lucas) fez um questionamento muito importante e pertinente em seu relato.

“Por que não passou na tv ou no rádio… Como um coisa dessa entra na terra sem aviso prévio?”

Alguém se habilita a responder?

Dica: Já publicamos diversas matérias sobre esse tema e a data 30 de Junho tem uma relação com o assunto!

Deixem seus comentários logo abaixo e faça o teste para saber se você entende de meteoros (aqui)

Agradecimentos a todos os grupos de astronomia, páginas e canais do Youtube que colaboraram com a divulgação da ferramenta; vocês foram poucos mas fizeram toda a diferença!

Coleta de Dados, Texto e Divulgação: Nordman Ribeiro, Amanda Martins, Richard Cardial, Luciana Fontes e Eduardo Santiago (Time Exoss)

O projeto Exoss Ciência Cidadã é uma rede colaborativa com a participação de universidades e institutos de pesquisa no Brasil e no exterior, e com voluntários cidadãos como você, que também pode participar e ajudar a ciência brasileira.

Compartilhe esta notícia para seus amigos e ajude o projeto!

Comentários

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2 thoughts on “Bólido no Rio Grande do Norte e região – dados consolidados

  • 11 de julho de 2018 em 11:04 PM
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    Vou utilizar o post em uma aula de Física/Astronomia, 30km distante do epicentro, onde grande parte dos meus alunos observaram o fenômeno natural.

    Resposta
    • 12 de julho de 2018 em 8:59 AM
      Permalink

      Que boa notícia professor. Desejamos sucesso para você e sua turma.

      Resposta

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